50 ANOS DEPOIS, 5° BEC

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         Se a vida
naturalmente é feita de desafios, viver na Amazônia essa medida vai ao cubo. O
que dizer então viver em Rondônia a exatos cinquenta anos atrás. Quando ainda
éramos Território Federal, longe de tudo e de todos, mas perto de uma riqueza
imensurável, chamada de Amazônia, que sempre foi palco e cenário de grandes
expedições, aventuras, desafios e atos de pioneirismo. Desde os tempos mais
remotos inúmeras vezes o homem ocidental foi convocado a viver e sobreviver em
meio a grande floresta, cobiçada desde de sempre pelos olhos europeus.
         Mas foi na metade do século XX, que o
clamor regional, de uma população que sobrevivia ao isolamento rodoviário, que
ainda, mesmo que existindo algo do tipo, era precário e deficitário, uma nova
empreitada seria vivenciada mais uma vez na tão cobiçada Amazônia em Rondônia,
pelos membros do 5° Batalhão de Engenharia e Construção, o tão conhecido 5°
BEC.
         A Rodovia BR 364 é tronco muito
importante, não somente para Amazônia, mas principalmente para a região mais
beneficiada pela sua presença – Rondônia. A rodovia foi o estopim que deflagrou
a corrida para as terras de Rondônia, favorecendo grandemente o fornecimento
dos gêneros de primeira necessidade, aumentando o fluxo migratório em busca das
lavas de cassiterita e mais tarde, das terras utilizadas para agricultura
através dos projetos de colonização do Governo Federal.
        Consolidada em 1966, quando ficou
ligada Cuiabá com Porto Velho, graças ao trabalho do 5° BEC. Em Porto Velho,
faz ligação com a BR 319 que segue com destino a Manaus, entregue ao tráfego
desde 1973, quando concluído o asfaltamento, e infelizmente hoje, parcialmente
deteriorada.
Desfile do 5° Batalhão de Engenharia e Construção
         Outras ligações, além da estrada que
vai de Porto Velho – Abunã – Guajará Mirim – Rio Branco no Acre, surgiram como
a estrada de Vilhena a Colorado. Todas com origem na BR 364 que, por sua vez,
origina-se em Limeira na confluência com a via Anhangüera, no Estado de São
Paulo.
O 5° BEC, sua trajetória em Rondônia. 
            
        Com a
chegada do 5° BEC a Rondônia, incumbido de concluir a construção da rodovia
Brasília-Acre e erradicar infelizmente a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, houve
grandes modificações na rodovia. O 5° Batalhão de Engenharia e Construção foi
criado em 1965, a exatos cinquenta anos e, já um ano após seu surgimento,
iniciava seus trabalhos de complementação da estrada. Não seria desnecessário
dizer-se da modificação que houve em Rondônia com sua chegada.
Chegada do primeiro comboio do 5° BEC
           Estávamos na segunda metade do mês de
fevereiro quando chegaram. Houve boa receptividade por parte da população do
Território Federal de Rondônia, pois, a mesma criara expectativas quanto a possível
solução para o isolamento rodoviário da região. Naquela data, a capital do
Território Porto Velho, ainda era uma cidade com ares provincial e pequena, e não
cabia tanta gente assim de repente. O 5° BEC ocupou todas as casas disponíveis
na cidade. Até a casa do Bispo, o antigo colégio Dom Bosco, foi ocupada por
sargentos, tudo com o intuito que priorizar o asfaltamento da BR 364, sonho de
muitos na época. As residências de antigos ferroviários – Caiari foram
solicitadas e nelas colocaram oficiais. O prédio do 19° D.R.F. , foi ocupado,
cedido, pelo chefe, Dr. Moura; também ocuparam o quartel da Guarda Territorial
na Arigolândia.
Sede do 5° Batalhão em Porto Velho – Rondônia
            Com a chegada do 5° BEC a Porto Velho,
houve muita alteração no quadro social, muita modificação de comportamento;
estratificação das classes sociais, até estão indistintas. Na realidade os
militares inicialmente vivenciaram certa insatisfação da população da cidade em
alguns momentos. Exemplos como problemas de relacionamento com funcionários da
Estrada de Ferro Madeira Mamoré ou civis em geral. Naturalmente coisas banais
que, dado o volume de trabalho, não permitia aos oficiais o luxo de serem mais
diplomáticos para resolvê-las. As medidas que eram tomadas por eles, nem sempre
eram precedidas de um esclarecimento ao público e, evidente chocava a população.
LIBERDADE: UM NOVO BAIRRO EM PORTO VELHO
              A retirada de moradores da Baixa
União por exemplo, transferidos para o bairro Liberdade, causou insatisfação,
pela maneira que foi executada, embora os moradores antigos reconheçam ter
ganhado na troca. A Baixa União ficava onde hoje é Avenida Rogério Weber, onde
se localiza o Fórum, Receita Federal, Tribunal de Justiça Federal, Feira do
Produtor e Camelódromo. Locais que em determinadas épocas sofriam alagamentos.
A única vantagem era ficar perto do centro comercial e do trabalho.
            O 5° BEC fez tudo para justificar o
ato, desde transportar o material das velhas casas de madeira até mandar
construir as frentes das novas casas de alvenaria com cobertura de telhas de
amianto. Hoje o bairro Liberdade, criado pelo 5° BEC, é um dos mais
promissores, fica no centro geográfico de Porto Velho e é bem servido por órgãos
públicos.
            Mesmo diante de alguns dilemas, a cidade
foi substancialmente enriquecida culturalmente, pois os oficiais e suas esposas
passaram a fazer parte ativa do magistério local e da sociedade. Com a chegada
do 5° BEC, as escolas foram beneficiadas, pois principalmente as esposas dos
militares achavam salutar ocupação em lecionar. Os colégios foram ampliados
oferecendo maior número de vagas, e o 5° BEC chegou a construir mais escolas.
           Os oficiais que cooperavam com o ensino
ministravam aulas no Carmela Dutra e Estudo e Trabalho, somente pela parte da
noite, prática abandonada em razão das constantes viagens para as frentes de
serviços, entretanto permaneciam os familiares. A prefeitura de Porto Velho
encontrou no 5° BEC apoio muito grande, na abertura e encascalhamento das ruas,
estradas vicinais, dentre outras benfeitorias feitas por força de convênios.
          
ASFALTAMENTO DA BR 364
            Quando Rondônia alcançou sua
autonomia, transformando-se em Estado, apenas o trecho Ariquemes-Porto Velho,
com 192 quilômetros era asfaltado; 48 destes ainda em estrada de chão; reserva
para a represa de Samuel. Os trabalhos ali foram executados pelo 5° BEC,
entretanto, toda a rodovia já se encontrava sofrendo reparos ou com máquinas das
empreiteiras chegando ao local de trabalho.
Desembarque dos Maquinários do 5° BEC em Porto Velho – Rondônia
           
Ao chegar a Porto Velho, para tomar posse como governador do território,
o coronel Jorge Teixeira de Oliveira estabeleceu suas metas de trabalho, dentre
as quais encontrava-se a pavimentação da BR 364. Como nenhum outro governador
havia conseguido atingir tal objetivo, imediatamente fizeram corre boatos, na
tentativa de desacreditá-lo perante a opinião pública. A oposição naquele
momento foi liderada pelo deputado federal Jerônimo Santana, que tempos depois
foi eleito Governador de Rondônia.
          Entretanto, Teixeira não desanimou,
continuou a luta, e depois de muitas viagens e contatos com autoridades mais
ligadas ao Território, conseguiu que fossem assinados, pelo ministro Eliseu
Resende, na presença do presidente João Batista Figueiredo, 19 contratos (14 de
empreiteiras e 5 de consultoria), para pavimentação da BR 364, rodovia Cuiabá-Porto
Velho, no trecho Cárceres, no Mato Grosso a Ariquemes, em Rondônia, numa extensão
de 1.040 km.
Trechos da antiga 029 hoje BR 364 – Rondônia
          As obras para pavimentação dos 1.442
quilômetros de Cuiabá-Porto Velho, concluídas em 1984, foram orçadas
inicialmente em 35 bilhões de cruzeiros. Desse total, o Banco Mundial
participara com um terço. Futuramente, o DNER estenderá o asfalto de Porto
Velho até Rio Branco, numa extensão de 505 quilômetros, estabelecendo-se a
ligação de todas a capitais brasileiras naquela época, por via pavimentada. Outro
trecho que será pavimentado com atuação do 5° BEC, será Abunã – Guajará- Mirim.
Travessia de balsa no Rio Machado em Ji-Paraná pela 029
       A BR 364 foi o rastilho de estopim que
deflagrou a ocupação de Rondônia. Graças ao empenho de Jorge Teixeira e dos
trabalhos do 5° BEC esse sonho de muitos que viviam os tempos de isolamento se
concretizou. Os migrantes vieram através de seu leito em grandes quantidades,
ocupando espaços que encontravam através dos Projetos de Colonização do Governo
Federal.
     A soma de forças e o empenho do 5° Batalhão
de Engenharia e Construção, foram de suma importância para a consolidação do
Estado de Rondônia, do qual era dependente do sucesso dos Projetos de Colonização,
que fatalmente seriam inviabilizados na falta de uma rodovia asfaltada para o
escoamento da produção e própria integração do Estado de Rondônia. 
Aleks Palitot 
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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