A DECADÊNCIA DO CICLO DA BORRACHA

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Em 1876, quando o ciclo da borracha ainda
iniciava sua fase de progressiva expansão, uma medida decisiva, que no futuro
próximo aniquilaria a economia do Estado, tinha sido levada a cabo: o
contrabando de sementes de seringueira para a Inglaterra e, daí, para suas
colônias na Ásia, onde seriam cultivadas.
Tal empresa foi concebida e realizada pelo
botânico inglês, Sir Henry Wickhman, que embarcou clandestinamente cerca de 70
mil sementes para a Inglaterra, onde foram cutivadas experimentalmente em
estufa. Dentre essas, vingaram 7.000 mudas, as quais foram transportadas para o
Ceilão e, posteriormente, para a Malásia, Samatra, Bornéu e outras colônias
britânicas e holandesas, nas quais se desenvolveram, passando a produzir uma
seringa de maior qualidade e menor custo, o que provocou a queda dos preços da
borracha e fez com que o quase monopólio da borracha pelo Brasil desmoronasse.
Em 1900, as colônias britânicas da Ásia
disputaram o mercado com uma modesta oferta: apenas 4 toneladas. Porém suas
exportações cresceram abruptamente e, em 1913, a produção brasileira. Já em
1913 o Brasil exportava 39 mil toneladas, enquanto a Ásia o superava com 47 mil
toneladas.
A partir de então, a produção da seringa
brasileira passou a despencar vertiginosamente, sobretudo face à queda dos
preços da borracha no mercado internacional, que inviabilizava cada vez mais a
atividade extrativa na região amazônica em função do seu custo. Porém, na Ásia
uma borracha de boa qualidade era produzida em grandes quantidades a um custo
bem mais baixo, o que levou o capital estrangeiro, ligado ao comércio e à
distribuição do produto brasileiro no exterior, a abandonar o vale do Amazonas,
visando seguros lucros no Oriente.
Com o declínio da economia gomífera que, por
um lado, reduziu a pressão sobre as florestas e, por outro, isolou a região do
contexto nacional e do capitalismo internacional, retornando à economia de
subsistência, os produtos complementares à borracha passaram a se constituir na
base da economia regional, entre os anos de 1920-40.
  
BORRACHA , O SEGUNDO
SURTO
Eclode a Segunda Guerra Mundial (1939 –
1945). Os Estados Unidos entram no grande conflito, e o Japão bloqueia o
Oriente, controlando as exportações dos países exportadores de borracha. Isso
força os Aliados a se voltarem para a Amazônia. Assim, em 1942, é assinado o
chamado Acordo de Washington, proposto pelos E.U.A. ao Brasil, visando
empreender uma atuação conjunta que viabilizasse o crescimento rápido da
produção da goma nativa.
Para tanto, estabeleceu-se que a agência
norte-americana Rubbes Development Corporatin viabilizaria a criação do Banco
de Crédito da Borracha, o qual deveria realizar com exclusividade o
financiamento, a compra e a venda da borracha. Os Estados Unidos deveriam
também participar do Serviço Especial de Saúde Pública e dos melhoramentos dos
meios de transporte. Em troca, o Brasil fixaria um preço-teto pelo quilo da
borracha que corresponderia a 25% do preço cobrado pela Bolívia e asseguraria a
mão-de-obra necessária à atividade.
Estima-se que, entre 1942 – 1945, cerca de
100 mil nordestinos tenham chegado à Amazônia, os chamados “soldados da
borracha”, para trabalhar nos seringais da região.
A missão desse contingente recrutado por
Vargas não era segredo para ninguém: salvar os aliados da derrota para os
países do Eixo. A propaganda oficial era um chamado. A vitória dependia da
reserva de látex brasileira e da força de voluntários, chamados pela imprensa e
pelo governo de “soldados da borracha”. Os nordestinos arregimentados não
tinham a menor idéia do que era o trabalho nos seringais. Geralmente adoeciam e
morriam facilmente. A partir de 1943 foi executado o movimento da segunda
grande leva migratória pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores
para a Amazônia (SEMTA). Diferente da primeira, que teve como principal
motivação o flagelo da seca nordestina, esta teve como móvel as passagens de
graça para os navios do Lloyd Brasileiro. 
A maioria dessas pessoas nunca mais voltou para casa. Em 2003, foi
instaurada uma CPI na Câmara dos deputados para apurar a situação dos
trabalhadores  enviados à Amazônia, entre
1942 e 1945. Muitos sobreviventes, hoje com mais de 70 anos, ainda vivem no
Acre e Rondônia, duas regiões que receberam a maior parte dos soldados
alistados. 

Contudo, tal como surgiu, o segundo surto da
borracha também acabou, ou seja, rapidamente. Finalizada a guerra, o interesse
americano e mundial pela borracha da Amazônia não tinha mais sentido. A região
retornou ao isolamento e à economia de subsistência. A pobreza se acentuou e o governo
federal interveio na região com outra política, tal como veremos a frente.
Aleks Palitot
Professor e Historiador

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