Guajará-Mirim, o turismo como fator de desenvolvimento local e sustentável

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Hotel de Selva em Guajará-Mirim.
O que é entendido por natureza não é natureza
em si, mas a imagem que se faz dela. Essa imagem altera-se no decorrer do
tempo, pois o entendimento é uma construção humana produzida pela cultura dos
povos. As conjunturas culturais, pelo seu dinamismo, estão sempre sendo
modificadas, e com elas modificam-se também as formas de percebermos e
compreendermos a natureza. Dependendo do momento histórico e das conjunturas
decorrentes, teremos conceitos, imagens, interpretações e formas de relacionamento
diferentes com a natureza.
A sensibilização diante das questões
ambientais presentes em nossa sociedade atual tem gerado uma preocupação cada
vez maior em relação ao meio ambiente e uma nova postura perante ele, por isso,
a sustentabilidade aliada a proposta turística para uma comunidade pode ser um
mecanismo viável de relação da sociedade com o meio ambiente. O turismo
sustentável tem estado presente em todas as novas orientações turísticas, como
pode-se observar na Política Nacional de Turismo no Brasil em curso, que
privilegia essa forma de desenvolvimento.
Festa do Divino no Vale do Guaporé e Mamoré.
No que diz respeito ao turismo religioso,
este é uma modalidade que movimenta um grande número de peregrinos em uma
viagem pelos mistérios da fé e da devoção a algum santo. Andrade[1]
denomina o turismo religioso como: “ o
conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos e a
realização de visitas a lugares ou regiões que despertam sentimentos místicos
ou suscitam a fé, a esperança e a caridade nos fiéis de qualquer tipo ou em
pessoas vinculadas a religião”.
Ressalvado o turismo de férias e o turismo
de negócios, Andrade diz que o tipo de turismo que mais cresce é o religioso,
porque além dos aspectos míticos e dogmáticos, as religiões assumem o papel de
agentes culturais pelas manifestações de proteção a valores antigos, de
intervenção na sociedade atual e de prevenção no que diz respeito ao futuro dos
indivíduos e das sociedades.
Em Pirenópolis em Goiás, onde ocorre os
festejos do Divino Espírito Santo. A cidade vive o fluxo  de romeiros que vivem uma semana de
festividade gerando assim arrecadação no município através da prestação de serviços
dos hotéis, restaurantes e comércio em geral. Entendemos que estes exemplos
podem servir como inspiração para o melhor aproveitamento dos festejos do
Divino Espírito Santo em Guajará-Mirim, que além de ser uma festa centenária,
possui alguns ingredientes interessantes por se tratar na única festa fluvial
do gênero no mundo e de se situar na Amazônia.
Entendemos ser válido uma reflexão sobre uma
restruturação econômica, de políticas públicas e estratégias de desenvolvimento
local. A valorização do poder local é retomada na década de 80 no Brasil a
partir do debate de descentralização, pacto federativo e reforma do Estado. No
campo de disputa na sociedade sobre os caminhos destes projetos, algumas
prefeituras desenvolveram um projeto inovador de democratização do poder local,
que hoje incorpora como ação modernizadora de ação municipal. Entre os pontos
relevantes destas a serem citados são: Inverter Prioridades de Governo em
relação às formas tradicionais de governar, direcionando nossos recursos – humanos
e financeiros – para áreas mais carentes. Recuperar a qualidade do serviço
público e garantir a igualdade de acesso aos serviços urbanos básicos.
Contudo, para além e aprofundamento o debate
de democratização do poder local, o processo de reestruturação econômica tem
colocado novas necessidades e novos papéis para os municípios, em particular no
campo de uma ação econômica e de geração de renda.
O papel dos municípios como agentes de
promoção de desenvolvimento econômico está hoje também ligado a crise do padrão
de acumulação fordista e as novas formas de flexibilização geradas em seu
interior. O processo de reestruturação econômica rompe com as integrações
regionais, compartilhadas horizontalmente, e criam possibilidades de novas
integrações do município.
Pensamos que a resposta aos impactos da
globalização sugere a necessidade de ações públicas locais, objetivando uma
integração não subordinada, que privilegie as questões sociais e a construção
do espaço da cidadania a partir de forças econômicas e sociais locais e
regionais. Por isso o desenvolvimento sustentável privilegiando as riquezas
culturais, históricas e naturais existentes podem ser um caminho para
proporcionar um maior empoderamento financeiro para a comunidade de
Guajará-Mirim, com a eliminação da tensão entre localidades está na
constituição de novos arranjos políticos/financeiros/institucionais capazes de
viabilizar projetos locais e regionais. Considerar que o desenvolvimento local
consiste em potencializar o desenvolvimento socioeconômico tomando como base
principal a mobilização de recursos humanos financeiros locais.
O município de Guajará-Mirim além de possuir
um complexo histórico de grande importância para o Estado de Rondônia, como é o
caso da Estação Ferroviária da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (museu) e suas
locomotivas, também é detentora de uma grande área de reserva ambiental, além
claro que paisagens de belezas cênicas. Em suma, sendo também um caminho
natural o ecoturismo, que não é apenas o ramo da indústria turística que mais
cresce rapidamente[2]; ele
também é considerado tanto novo e promissor instrumento para preservar áreas
naturais frágeis e ameaçadas quanto um meio de propiciar oportunidades para o
desenvolvimento das comunidades dos países em desenvolvimento.
O ecoturismo genuíno deve basear-se em uma
perspectiva de sistemas que inclua sustentabilidade e a participação da
população local, naquelas regiões onde o maior potencial para o desenvolvimento
de atividades ecoturísticas pode ser encontrado. O ecoturismo deve ser encarado
como um cooperativo entre população local e visitantes conscientes e
preocupados em preservar áreas naturais e seus patrimônios culturais e
biológicos, através do apoio ao desenvolvimento da comunidade local. Por
desenvolvimento da comunidade entenda-se conferir poderes aos grupos locais
para controlar e gerenciar reservas, mas que também satisfaçam as necessidades
econômicas, sociais e culturais do grupo.
Turismo religioso e a festa do Divino
Espírito Santo
O Turismo Religioso trabalha com as mais
diversas manifestações da fé e da busca pelo espiritual. Diversas regiões do
mundo movimentam milhões de pessoas a cada ano em função de romarias,
peregrinações, excursões e eventos religiosos múltiplos. Tais práticas ocorrem
em todas as sociedades com maior ou menor intensidade.
 Acredita-se
que em todo mundo mais de meio milhão de pessoas desloquem-se anualmente para
visitações, peregrinações e eventos religiosos. No Brasil a EMBRATUR situa em
mais de 15 milhões o número de pessoas que viajam por motivações religiosas
diversas.
“O turismo religioso pode contribuir para a
valorização e a preservação das práticas espirituais, enquanto manifestações
culturais e de fé as quais identificam determinados grupos humanos, assim como
oferecer condições para um desenvolvimento positivo na economia, na cultura e
na qualidade de vida da população local. A partir dessas possibilidades,
através desta pesquisa, a intenção foi buscar a identificação de locais que
possuem significado religioso, evidenciando que o mesmo, uma vez planejado,
pode se transformar em espaços com potencial para o desenvolvimento de
atividades voltadas à prática do turismo religioso, com base nos princípios da
sustentabilidade cultural”
Para termos uma referência da importância do
turismo religioso, iremos comparar a Festa do Divino de Guajará-Mirim com a
mesma Festa que acontece na cidade de Pirenópolis no Estado de Goiás. 

Festa do Divino em Pirenópolis em Goiás.

 

A Festa do Divino em Pirenópolis é a mais
significativa de todas as festas do gênero no Brasil.  Doze dias de festa na manifestação popular
mais importante da cidade. A festa do Divino Espírito Santo, comemorada em
Pirenópolis desde 1819, reúne desfiles das bandas de música, queima de fogos,
congadas, bailes, entre outros eventos.
Mesmo com um
PIB elevado em comparação a Pirenópolis, a cidade de Guajará-Mirim não consegue
transformar essa perspectiva de desenvolvimento em qualidade de vida para seus
munícipes. Diferente da ideia de crescimento – que sugere principalmente
aumento em quantidade, a de desenvolvimento implica mudança de qualidade de
vida e, também, o aumento dos graus de complexidade, integração e coordenação
de um sistema. Uma análise de como tem evoluído o conceito de desenvolvimento
pode ser feita pelas mudanças dos indicadores utilizados para medi-lo.
Julgava-se
poder medir o desenvolvimento de uma sociedade pelo nível da produção e do
consumo de bens de serviço, por meio de indicadores como Produto Interno Bruto
– PIB Nacional. Foi com base no PIB per
capita
que os países foram classificados em desenvolvidos ou não, pela ONU.
Ocorre que, como frisa Rattner[3],
a taxa do PIB oculta tanto condições críticas de vida humana como dos
ecossistemas naturais. De alguns anos para cá, por reconhecimento da
insuficiência dos parâmetros econômicos para avaliar o desenvolvimento dos
países a ONU está calculando o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH que
considera três dimensões: saúde, educação e renda.
 
Imbuído de
atender uma necessidade da pesquisa, buscamos nos arquivos da sede da Igreja
Nossa Senhora do Seringueiro[4], em Guajará-Mirim, e na
Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo – SEMCET[5], dados e informações
históricas sobre um dos ventos culturais e religiosos mais antigos da região. A
Festa do Divino teve sua origem em Portugal e foi estabelecida pela rainha Dª
Isabel, casada com o Rei D. Diniz, por volta das primeiras décadas do século
XIV. Na oportunidade a Rainha vivenciara no paço real uma briga familiar entre
o Rei D. Diniz e seu filho. Por isso, ela teria feito uma promessa, caso a paz
voltasse a reinar na corte e em sua família, que ela faria uma réplica da sua
coroa e do cetro e os enviaria como cumprimento de tal promessa ao Divino às
regiões pertencentes ao Reino de Portugal.
A Festa do
Divino Espírito Santo, em suas diversas manifestações, é uma das mais antigas e
difundidas práticas do catolicismo popular. Sua origem, conforme dito, remonta
às celebrações realizadas em Portugal a partir do século XIV, nas quais a
terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes e
distribuição de esmolas aos pobres. Essas celebrações aconteciam 50 dias após a
páscoa, comemorando o Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu do céu
sobre os apóstolos de Cristo sob forma de línguas de fogo, segundo nos conta o
Novo Testamento. 

Batelão do Divino Espírito Santo nas proximidades de Guajará – Mirim.

 

Em Rondônia,
a Festa do Divino tem expressividade no Vale do Guaporé, onde a população
ribeirinha procurou manter viva a tradição do festejo. O culto do Divino
Espírito Santo foi introduzido no Guaporé, por volta de 1894, pelo senhor
Manuel Fernandes Coelho, quando de sua mudança de Vila Bela do Mato Grosso para
a localidade de Ilhas das Flores. Naquele ano, o senhor Manoel Fernandes fez
vir de Vila Bela da Santíssima Trindade a Coroa de prata e, juntamente com
outros adeptos, realizou os festejos do Divino naquela localidade. Todos os
anos posteriores até o ano de 1932, o Divino foi festejado naquela localidade,
sendo, então, os festejos transferidos para Rolim de Moura. Após o encerramento
da festa, a comissão da Irmandade do Divino, junto com seus membros e
presidente se reúnem para fazer o sorteio da cidade que sediará o próximo
evento, ficando assim acertado e logo começam os preparativos para a festa do
ano seguinte, que segundo (Malon 2014).
 Turismo
Histórico



A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e seu museu uma das mais
significativas edificações da cidade de Guajará-Mirim é o prédio que serviu de
estação ferroviária e que hoje abriga o Museu Histórico Municipal de
Guajará-Mirim. A edificação data da primeira metade do século XX e este museu
está localizada no prédio da antiga estação ferroviária de Guajará-Mirim, em
Rondônia. Durante um longo período seu estado de conservação foi caótico. A
situação tornou-se muito grave com a grande cheia de 1914, quando as águas do
rio Mamoré chegaram até a edificação. A recuperação do prédio custou aos cofres
públicos o equivalente a 450 mil reais e foi bancada pelos governos federal e
estadual, através da Superintendência de Turismo.

Museu Municipal de Guajará-Mirim antiga Estação Ferroviária.

 

A estação de
Guajará-Mirim era o ponto final da Ferrovia Madeira-Mamoré, localizada no
quilômetro 366 daquela estrada ferroviária. Foi inaugurada em 30 de abril de
1912 e extinta em 10 de julho de 1972. A obra teve uma história conturbada e
custou milhares de vida e milhões de dólares aos governos da Bolívia e,
posteriormente do Brasil, que pelo Tratado de Petrópolis (1903) assumiu seus
custos e a sua construção. Guajará-Mirim ergueu-se de seringal a município em
função da ferrovia e a sua desativação em 1972, representou um duro golpe para
a sociedade local.
Ao
discutirmos o Turismo como empreendimento viável social, cultural, ambiental e
economicamente, sempre vem à tona a discussão oferta e mercado e como
aproximá-los, notadamente em áreas de reconhecido desinteresse turístico. Este
é o caso da cidade de Guajará-Mirim, situada a noroeste do estado de Rondônia,
na fronteira entre o Brasil e a Bolívia e às margens do rio Mamoré. Sua
população diminuta, sua enorme distância de grandes centros e a ausência de
infraestrutura a tornam uma cidade, aparentemente, pouco habilitada ao
desenvolvimento da indústria turística. Contudo, alguns elementos culturais, a
existência da cidade gemelar na Bolívia e seu considerável patrimônio natural,
certamente são qualificações que não devem passar despercebida aos
empreendedores, gestores públicos e sociedade local.    Neste breve estudo, procurarei refletir
sobre os elementos culturais e naturais que possam impulsionar a vocação de
destino turístico da cidade de Guajará-Mirim.
O Festival
Folclórico de Guajará-Mirim, com o seu “Duelo da Fronteira” é uma disputa de
Bois Bumbás estilizados, ao modelo de Parintins, que ocorre na cidade de
Guajará-mirim desde 1995, embora a prática dos “folguedos de Bois” seja
consideravelmente mais antiga na cidade, havendo referências às mesmas a partir
dos anos 1930. O Duelo da Fronteira conta com uma ampla adesão de toda a
população local, que estima e prestigia o evento. A disputa entre os Bois Flor
do Campo e Malhadinho segue o mesmo padrão do bemsucedido evento de Parintins.
O festejo ocorre no mês de setembro e recebe investimentos e aporte de recursos
públicos estaduais para a sua realização.
Duelo da Fronteira em Guajará-Mirim – RO
                Ainda em relação às atividades
vinculadas ao Turismo Cultural deve-se salientar o potencial adormecido do
patrimônio ferroviário local, ligado á extinta Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Hoje tal patrimônio encontra-se abandonado e em lastimável estado de
preservação. Contudo, fatores diversos o colocam em melhor situação do que o
patrimônio ferroviário da capital Porto Velho. É notável a melhor condição de
preservação e visitação do Museu Ferroviário, situado no centro da cidade, às
margens do rio Mamoré e os trilhos instalados entre a cidade de Guajará-Mirim e
o distrito do Iata, localizado há aproximadamente 30 km de distância. Com
investimentos consideravelmente menores do que seriam necessários em Porto
Velho, seria possível resgatar o passeio de Maria Fumaça, ao mesmo tempo em que
se promoveria atividades de comércio turístico no distrito do Iata, cuja
economia se encontra deprimida há longo tempo.
O Turismo
Ambiental
Guajará-Mirim
situa-se num contexto amazônico, sendo constituída por áreas de planície e
chapadas florestadas e com manchas de cerrado. Esse ambiente natural, com
diversas cachoeiras e corredeiras no rio Mamoré foram descrito como altamente
impeditivo para o povoamento e a ocupação ocidental desde o século XVII.
Cronistas, viajantes, militares e religiosos produziram textos sobre a
adversidade ambiental. A uma natureza hostil somava-se uma vasta população
indígena, também hostil.
                Tais fatores são considerados,
atualmente, como potenciais promotores do turismo ecológico e ambiental. Tal
prática fortaleceu-se a partir dos anos 1970/80 em todo o mundo, com a
afirmação da consciência ambiental planetária. A região de Guajará-Mirim
oferece condições muito favoráveis para esportes náuticos de caráter fluvial,
festivais de praias fluviais, área para montanhismo e esportes radicais, trilhas,
canoagem, observação de fauna e conhecimento de antigos seringais. Vale
salientar que mais de 90% da área do município é constituída por reservas,
parques e terras indígenas. No zoneamento socioeconômico e ambiental
desenvolvido pelo PLANAFLORO na década de 1990, o município aparece como área
de vocação turística ligado às questões ambientais.Bons Exemplos 

Um exemplo positivo
que podemos citar é o pleno funcionamento do complexo turístico ferroviário da
cidade de Tiradentes em Minas Gerais. Em 1874, surgia a segunda ferrovia do
Estado de Minas Gerais e a 13ª do Brasil – a Estrada de Ferro Leopoldina. Cinco
anos depois, nascia a Estrada de Ferro Oeste de Minas – EFOM, inaugurada no dia
30 de setembro de 1880, ligando, a princípio, as cidades de Antônio Carlos ,
próximo a Barbacena, e Barroso.

Trecho ferroviário em funcionamento em Minas Gerais.

 

A EFOM foi
considerada a ferrovia “mais” mineira, pois um ano após a
inauguração, sua sede passou a ser Sâo João Del Rei, resultado do esforço
realizado pela comunidade local para que a ferrovia chegasse até a cidade.
Nessa época, por onde passava o trem já despertava o interesse e a emoção dos
moradores. Alguns historiadores chegaram a considerar a Estrada de Ferro Oeste
de Minas como a primeira ferrovia do estado, já que as demais possuíam suas
sedes no Rio de Janeiro.
A ferrovia de
São João del-Rei possuía características bastante peculiares, que a tornaram
muito especial. Sua bitola estreita, de 76 centímetros, a fez herdar o
carinhoso apelido de “Bitolinha”. A ferrovia chegou a atingir 602 km
de extensão e pode ser considerada uma das raízes do que viria a ser, anos mais
tarde, a Ferrovia Centro-Atlântica FCA, herdeira da malha Centro-Leste
brasileira, a partir do processo de desestatização da Rede Ferroviária Federal
S.A., em 1º de setembro 1996.
Desde sua
fundação, a ferrovia nunca parou de funcionar. O tráfego ferroviário nos 12
quilômetros do trecho entre São João Del Rei a cidade histórica de Tiradentes
ainda atrai muitos turistas e moradores locais, interessados em viajar pela
história, a bordo das centenárias locomotivas, oriundas da Estrada de Ferro
Oeste de Minas.
O complexo
Ferroviário de São João Del Rei – onde está localizado o Museu Ferroviário -,
tombado pelo patrimônio histórico, em 3 de agosto de 1989, nos convida a fazer
uma viagem da origem ao crescimento das ferrovias no Brasil. Uma história que
vem, há mais de um século, acompanhando os acontecimentos do País e deixando
saudosas lembranças na memória das famílias brasileiras. Uma história marcada,
acima de tudo por cultura, arte e emoção.
Em Guajará-Mirim
existem um equipamento museológico criado na década de 80 do século 20 para
retratar parte do que foi o legado e a história da construção da Estrada de
Ferro Madeira Mamoré. O Museu está instalado em um antiga Estação Ferroviária e
possui cinco espaços. Três destinados a contar a história da cidade relacionado
a ferrovia e outros dois com peças, artefatos e animais empalhados
representando a fauna, a presença indígena e aspectos geográficos do lugar. No
entorno do museu existe um antigo pátio ferroviário com duas locomotivas, uma
delas em condições inadequadas de conservação. Uma segunda, denominada Máquina
Cinco, passou recentemente por um processo de revitalização. Mas, percebemos
que o ideal para a comunidade seria a reativação do passeio turístico de trêm
pelos trilhos da ferrovia de Guajará-Mirim até o pequeno distrito do Iata no
quilômetro 20. Temos exemplos em outras cidades do Brasil, que utilizam dos
passeios turísticos ferroviários em pequenos trechos para gerar emprego e renda
para as comunidades locais, no entorno dos trechos ferroviários.
A cidade
possui uma boa relação com o Museu, comprovado nas visitações periódicas da
população local, principalmente estudantes. O museu fica em lugar central da
cidade no perímetro histórico e urbano do município estando em funcionamento
entre terças-feiras e domingo, e têm em média segundo informações da Secretaria
Municipal de Cultura da cidade de Guajará-Mirim, média de 700 visitações
semanais. O pico dessas vistas se concentram entre sexta e sábado com turistas
de outros municípios que ao visitar a cidade para efetuar compras na fronteira
(cidade boliviana) acabam por também se entreter no pequeno museu e conhecer o
patrimônio histórico do lugar.
De todas as
formas, tomando o patrimônio em sentido amplo, na hora da verdade estão ali
materializados: as tradições, os costumes, os modos de ser e viver, mas,
sobretudo, em cultura material, técnicas, artefatos e etc., nos quais estão os
testemunhos palpáveis, das mais diversas culturas.
O estudo do
patrimônio cultural implica uma contextualização social, econômica, histórica
que esbarra no resgate da identidade seja em qual aspecto for. O círculo se
completa quando o patrimônio se transforma em museu. “ Musealizar” a cultura
material e imaterial significa recontextualizá-la, exigindo dos estudiosos
responsáveis conhecimentos exaustivos dos objetos sem seu poder e do espaço que
estes ocuparão nos museus, para representar com fidelidade o sentido que tal
objeto representou no seu passado histórico.
Aleks Palitot
Professor e
Historiador

 


 

[1]
ANDRADE, José V., Turismo: fundamentos e
dimensões.
Pioneira; São Paulo, 1999, p.77.
[2]
ANDRADE, José V., Turismo: fundamentos e
dimensões.
Pioneira; São Paulo, 1999, p.190.
[3]
RATTNER, Henrique. Liderança para uma
sociedade sustentável.
Ed. Nobel; São Paulo, 1999.
[4]
Localizada na Avenida Doutor Mendonça Lima, 555 – Centro em Guajará-Mirim. Visita
realizada em dezembro de 2012 entre os dias 10 e 13.
[5]
Localizada na Avenida Dr. Mendonça Lima, 231 – Centro em Guajará-Mirim. Visita
realizada em dezembro de 2012 entre os dias 10 e 13.

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