Urucumacuan, o Eldorado em Rondônia

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O Eldorado (do castelhano El Dorado, “O
Dourado”), Manoa (da língua achaua manoa, “lago”), ou Manoa del
Dorado (já citado anteriormente) é uma lenda que se iniciou nos anos 1530 com a
história de um cacique ou sacerdote dos muíscas, indígenas da Colômbia, que se
cobria com pó de ouro e mergulhava em um lago dos Andes. Inicialmente um homem
dourado, índio dourado, ou rei dourado, foi depois fantasiado como um lugar, o
reino ou cidade desse chefe lendário, riquíssimo em ouro.
Embora os artistas muíscas trabalhassem peças
de ouro, algumas das quais hoje formam o rico acervo do Museu do Ouro em
Bogotá, nunca foram encontradas entre eles grandes minas, muito menos as
cidades douradas sonhadas pelos conquistadores que pretendiam repetir a façanha
de Francisco Pizarro no Peru. Tudo indica que os muíscas ou chibchas obtinham o
ouro por meio de trocas com indígenas de outras regiões ou extraindo ouro dos
rios da região.
Sedentos por mais ouro, os conquistadores
fizeram o mito migrar para leste, para os Llanos da Venezuela e depois para
além, no atual estado brasileiro de Roraima ou nas Guianas. Na forma tomada
pelo mito a partir do final do século XVI, a cidade dourada, agora conhecida
como Manoa, se localizaria no imenso e imaginário lago Parima e teria sido
fundada ou ocupada por incas refugiados da conquista de Pizarro.
O mito é semelhante ao de Paititi ou Candire,
que também seria uma cidade cheia de riquezas que teria servido de refúgio a
incas que escaparam da conquista espanhola, mas costuma ser localizada muito
mais ao sul, entre as selvas da Bolívia e Peru ou no Brasil, no Acre, Rondônia
ou Mato Grosso. Os dois mitos têm origem comum no sonho de conquistadores de
enriquecer repetindo a façanha de Francisco Pizarro, o conquistador dos incas, e
influenciaram-se mutuamente, mas o de Paitíti associou-se, em tempos mais
recentes, com a nostalgia de povos andinos pelo antigo Império Inca, ganhando
conotações nativistas.
João de Albuquerque Perereira de Melo e Cáceres
Na segunda metade do século XVIII, correu a
notícia em Cuiabá da descoberta das minas de Urucumacuan, ricas jazidas que se
localizaram entre o rio Juruena e o Jamari; entretanto o caminho a ser
percorrido nunca foi definido, mas o capitão-general João de Albuquerque
Perereira de Melo e Cáceres mandou fazer exploração naquelas paragens “ em
direitura dos Campos de Parecis descendo o rio Guaporé”[1].
Fizeram prospecção no leito do rio Branco, onde teriam achado mostras de ouro,
também o rio Piolho, perto de onde alguns negros formaram um Quilombo do mesmo
nome, demonstrou existir ali ouro, igualmente o São Pedro foi escavado onde
encontraram mostras de ouro embora muito fraca. Assim resolveram voltar ao
ponto de partida sem conseguir encontrar as minas propaladas, como acontecera
com outros aventureiros que as procuravam.
Em 1909, Rondon observou uma região da linha
telegráfica, a partir do rio Cabixi, nas terras dos municípios de Vilhena e
Pimenta Bueno. Ali haveria uma faixa de noventa quilômetros contendo cascalho
aurífero de onde teria colhido amostras e enviado para análise no Rio de
Janeiro, onde fora revelada a existência de ouro de 23 quilates, tendo o
sertanista organizado, em seguida, uma expedição sob a direção do engenheiro de
Minas Francisco Moritz.
Marechal Rondon na região Guaporeana
“ O mesmo engenheiro Moritz foi encarregado
ainda pelo general Rondon, de estudar, sob o ponto de vista mineralógico, a
zona compreendida entre os rios Ji Paraná ou Machado, o Comemoração e o Pimenta
Bueno.
Reorganizando sua turma em Vilhena, daí
partiu a nova expedição, pela picada da linha telegráfica, até atingir a
estação “Barão de Melgaço”, banhada pelo Comemoração. Tendo iniciado a marcha
no dia 25 de janeiro de 1913, alcançou a estação telegráfica José Bonifácio, no
dia primeiro de fevereiro de 1913, ali permanecendo até dia 5 de março, época
em que as chuvas começaram a diminuir. No dia 10 de março, chegava a expedição
a Barão de Melgaço, onde permaneceu até dia 20, ocupada na construção de uma
canoa. A 22 acampou junto a foz do Rio Barão de Melgaço, onde iniciou o exame
do terreno, estudando esse rio e seus tributários. Internando-se mais a Oeste
examinou todos os córregos até encontrar a formação sedimentária formando capa
sobre o granito, sem descobrir porém, nenhum vestígio de mineração.
Expedição de Rondon entre Mato Grosso e Rondônia
“ Do exposto verifica-se a ter a comissão
Rondon descoberto, no interior do estado de Mato Grosso, uma larga faixa de
terras onde abunda o ouro e onde existe o diamante. A sua localização na zona
das nascentes do Ji Paraná e Cabixi parece identificar a célebre mina de
Urucumacuã, de que tratam escritos antigos, conforme opinião versada pelo
Marechal Rondon em conferência em 1915”.[2]
O etnólogo E. Roquette Pinto, um dos membros
da Comissão Rondon, em seu livro “ Rondônia”, dá sua versão sobre a localização
das minas:
“ Em 1909, a terceira expedição Rondon partiu
de Juruena e varou inteiramente a mesopotâmia que se acha entre ele e o
Madeira.
Começou a marcha a 2 de junho. A 11 de
outubro estava a 18 graus e 17 minutos do Rio de Janeiro, debaixo do paralelo
de mais um rio, que Rondon batizou com o nome de Pimenta Bueno a quem a
geografia do Mato Grosso deve linhas magistrais. Depois passou em setembro pelo
rio Barão de Melgaço e cabeceiras de Cacimba de Pedra, sob a orientação de
Rondon, sonhador e patriota, o Ministério da Agricultura destinara 800 contos
para se constituir a logística da Expedição Urucumacuã, liderada por uma equipe
de três engenheiros geólogos, que se especializaram-se nas minas do Morro
Velho”.
Estação Telegráfica Bonifácio 
Integravam a expedição ao Urucumacuã um
médico, um radiotelegrafista, um enfermeiro e alguns garimpeiros. Seguiram à
frente 20 trabalhadores, os quais, após dois meses em Porto Velho, foram para
Guajará Mirim, no Mamoré. Por este rio entraram no Guaporé e subiram o
Corumbiara com maquinaria e artigos diversos destinados às pesquisas auríferas.
A esse tempo, pelo Ji Paraná, partindo de Calama, seguiam 24 toneladas de
comestíveis, medicamentos, sondas e outros equipamentos de engenharia, tudo
destinado a Pimenta Bueno, estação telegráfica. Ao todo foram cinco meses até
Pimenta Bueno. “ Sem demora as febres e infecções intestinais atacaram a todos,
inclusive os dirigentes. Embora doentes, os técnicos fizeram as buscas, as
prospecções e avaliações e concluíram pela negativa”.[3]
Rondon estava convencido da existência das
jazidas, que pensava ter localizado no rio Barão de Melgaço, cuja abundância de
ouro daria para pagar a nossa dívida exterior. Com tantas gemas o presidente
Vargas poderia encampar a “Bond and Shar” e subsidiárias; montar a Volta
Redonda, sem ter que negociar com Roosevelt; construir muitas represas e a
Petrobrás teria nascido dez anos antes, no contexto da época.[4]
No Rio Machado, os garimpeiros de diamante
andaram pesquisando ouro propalando a existência daquele metal ali no leito
daquele caudal. Também os pesquisadores andaram faiscando no Jacy-Paraná e, no
rastro dos bandeirantes, voltaram a pesquisar o rio Branco. Mas o maior número
de garimpeiros de ouro ocorreu, a partir de 1971, no valado Madeira e Mamoré,
entre Lajes e Araras e, já em 1980, os garimpeiros iniciaram a ocupação de todo
trecho entre Guajará Mirim e Porto Velho, quando a verdadeira da corrida do
ouro aconteceu, até mesmo porque o governador Jorge Teixeira, conseguiu junto
ao Ministro das Minas e Energia, a liberação temporária do garimpo manual na
região, mas com uma série de restrições e orientações.
Sobre o garimpo da década de 80, temos ainda
sofrido com seus reflexos históricos, principalmente no que tange ao impacto
ambiental, sócio-cultural na região, problemas na urbanidade e também na
violência.  Ao tempo que aparentemente o
garimpo traria progresso e riqueza, ele deixou rastro de mercúrio nos rios,
violência urbana e invasões a terras em Porto Velho que deram origem a novos
bairros anos depois. O fato que a busca do ouro, do “El Dorado”, do sonho de
ficar rico rapidamente faz parte do nosso passado, do presente, e acredito que
por falta de controle, de fiscalização e repressão, ainda será o nosso
contexto de futuro.
Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098


[1] CORREA
FILHO, Virgílio – História de Mato Grosso. Rio de Janeiro, MEC-INL, 1969.p.162.
[2]
MAGALHAES, Amilcar A. Botelho. – Pelos Sertões do Brasil, Porto Alegre, Globo,
1930.
[3] MAGALHAES,
Amilcar A. Botelho. – Pelos Sertões do Brasil, Porto Alegre, Globo, 1930. Pág.
215.
[4] CABRAL,
Otaviano – História de uma região; Mato Grosso, Fronteira Brasil-Bolívia e
Rondônia. Rio de Janeiro, Himalaia, 1963. P254-55.

1 comentário


  1. interesante so historia tantos pesquisadores e empresas nacional e internacional garimpeiros ninguem nunca achou ;;;;;;;;;

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