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Roquete Pinto com índios em Rondônia |
Na epoca em que os portugueses desembarcaram no Brasil, acreditava-se, na Europa, que tomar banho não era saudável, pois a água estragaria a pele. Imagine, então, o odor que exalava daqueles homens portugueses que desembarcaram em nossas terras, metidos em pesadas roupas que iam até o queixo, sob o sol da Bahia. Sentima-se, porém, culturalmente superiores aos índios, a quem ensinaram a sentir vergonha de sua nudez.
O encanto com o corpo das índias e a surpresa com a falta de vergonha em ficar nu aparecem na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal: “E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima, daquela tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela”.
O choque cultural dos portugueses não teve, entretranto, nada de gracioso. Espalharam-se doenças que dizimaram tribos. Índios, que viviam em harmonia com a natureza, sem conhecer a fome e as desigualdades, tornaram-se escravos. Começa aqui, exatamente aqui, a história da desigualdade no país, na qual os grupos mais fortes sentiam-se autorizados a usar violência. Dominou-se, inclusive, em nome de Deus: os religiosos acreditavam estar salvando aquelas almas pecadoras convertendo-as ao catolicismo. A glória dos Bandeirantes, apresentados como heróis, estava também assentada na escravidão dos nativos. Tentativas de organizar os indígenas, feitas por jesuítas, foram duramente reprimidas.
O choque cultural, a rigor, segue até hoje. Mesmo com a demarcação de suas terras, as invasões feitas por fazendeiros e garimpeiros continuam acontecendo, muitas delas apoiadas clandestinamente pela polícia ou políticos. Mesmo depois do fim do processo colonial no Brasil, percebemos que alguns conceitos não mudaram em nossa sociedade. O Brasil, de inúmeras etnias ainda leva consigo algo terrível, a idéia de que o índio não têm direito algum.
Aleks Palitot
Historiador