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Vivo
ou morto, Getúlio é o grande mito político da nossa história recente. Seu
suicídio foi um golpe de mestre. Imobilizando os inimigos, ele possibilitou a
manutenção da ordem democrática e a eleição de Juscelino, em 1955.
ou morto, Getúlio é o grande mito político da nossa história recente. Seu
suicídio foi um golpe de mestre. Imobilizando os inimigos, ele possibilitou a
manutenção da ordem democrática e a eleição de Juscelino, em 1955.
O
suicídio de Getúlio Vargas, ocorrido há sessenta anos, foi um acontecimento trágico e único na
História do Brasil, razão pela qual vem sendo recordado e reforçado por
múltiplos mecanismos da memória. Não fosse isso suficiente, o ano de 2014
também assinala os quarenta anos do golpe civil-militar de 1964, outro evento
traumático da política nacional, que guarda com o suicídio um laço fundamental.
Não só os analistas políticos profissionais, como também grande parte da
população que tem acesso a informações, sabem e repetem que o suicídio adiou
por dez anos o golpe. Ou seja, se Vargas não tivesse dado um tiro no coração, a
conspiração que então se armava contra ele dificilmente seria evitada.
suicídio de Getúlio Vargas, ocorrido há sessenta anos, foi um acontecimento trágico e único na
História do Brasil, razão pela qual vem sendo recordado e reforçado por
múltiplos mecanismos da memória. Não fosse isso suficiente, o ano de 2014
também assinala os quarenta anos do golpe civil-militar de 1964, outro evento
traumático da política nacional, que guarda com o suicídio um laço fundamental.
Não só os analistas políticos profissionais, como também grande parte da
população que tem acesso a informações, sabem e repetem que o suicídio adiou
por dez anos o golpe. Ou seja, se Vargas não tivesse dado um tiro no coração, a
conspiração que então se armava contra ele dificilmente seria evitada.
O
segundo governo Vargas (1950-54) não transcorreu com tranqüilidade, tendo o
presidente sofrido, sistematicamente, a oposição da maioria da imprensa e de
grande parte dos setores políticos e militares, Mas, em agosto de 1954, uma
grave crise se instalara com o atentado ao jornalista Carlos Lacerda,
desencadeando um impasse de graves proporções, onde se opunham um presidente
eleito, gozando ainda de grande popularidade, e uma ferrenha e aguerrida
oposição militar, que acusava o governo, especificamente o próprio Vargas, de
estar envolvido em um “mar de lama”. Tudo isso, é bom lembrar, tendo como
cenário a Guerra Fria, que alimentava o medo dos comunistas e também dos
sindicalistas.
segundo governo Vargas (1950-54) não transcorreu com tranqüilidade, tendo o
presidente sofrido, sistematicamente, a oposição da maioria da imprensa e de
grande parte dos setores políticos e militares, Mas, em agosto de 1954, uma
grave crise se instalara com o atentado ao jornalista Carlos Lacerda,
desencadeando um impasse de graves proporções, onde se opunham um presidente
eleito, gozando ainda de grande popularidade, e uma ferrenha e aguerrida
oposição militar, que acusava o governo, especificamente o próprio Vargas, de
estar envolvido em um “mar de lama”. Tudo isso, é bom lembrar, tendo como
cenário a Guerra Fria, que alimentava o medo dos comunistas e também dos
sindicalistas.
A
tensão chegou a tal ponto que a renúncia do presidente foi pedida, ficando
claro que, se ele não se afastasse, seria deposto mais uma vez. Foi nessas
circunstâncias que Vargas se matou, num derradeiro golpe político que visava
reverter uma situação que vinha beneficiando os antigetulistas. Lançando sobre
eles se cadáver, Vargas, como escreveu na carta-testamento, oferecia seu corpo
em defesa do povo e da pátria, saindo da vida para entrar na história. Nunca se
saberá o que teria realmente acontecido no Brasil caso Vargas não tivesse se
matado.
tensão chegou a tal ponto que a renúncia do presidente foi pedida, ficando
claro que, se ele não se afastasse, seria deposto mais uma vez. Foi nessas
circunstâncias que Vargas se matou, num derradeiro golpe político que visava
reverter uma situação que vinha beneficiando os antigetulistas. Lançando sobre
eles se cadáver, Vargas, como escreveu na carta-testamento, oferecia seu corpo
em defesa do povo e da pátria, saindo da vida para entrar na história. Nunca se
saberá o que teria realmente acontecido no Brasil caso Vargas não tivesse se
matado.
Mas é certo que sua morte transformou o equilíbrio das forças políticas
vigente, bloqueando o golpe que armava e possibilitando a manutenção da
legalidade constitucional, com a realização das eleições para presidente, em
que saiu vitorioso Juscelino Kubitschek. Importa assim ressaltar o “sucesso”
imediato do suicídio para a manutenção da democracia no Brasil. Trata-se de uma
excelente janela para adentrar à chamada Era Vargas (1930-45), e aí,
particularmente, para se pensar nas razões que tornam possível a construção da
figura desse presidente como um mito da política nacional.
vigente, bloqueando o golpe que armava e possibilitando a manutenção da
legalidade constitucional, com a realização das eleições para presidente, em
que saiu vitorioso Juscelino Kubitschek. Importa assim ressaltar o “sucesso”
imediato do suicídio para a manutenção da democracia no Brasil. Trata-se de uma
excelente janela para adentrar à chamada Era Vargas (1930-45), e aí,
particularmente, para se pensar nas razões que tornam possível a construção da
figura desse presidente como um mito da política nacional.
Quando
Vargas se matou, não era mais o chefe de um governo ditatorial, como fora
durante o Estado Novo (1937-45), mas um presidente eleito pelo voto popular, em
disputado pleito ocorrido em 1950. Sua vitória foi uma surpresa para os
opositores, reunidos na União Democrática Nacional, a UDN. Estes acreditavam
que um ex-ditador não poderia ser eleito, e, se o fosse, não poderia tomar
posse. Tanto que questionaram as eleições e a consideraram, como frequentemente
os derrotados fazem, uma prova cabal de que o povo brasileiro não sabia votar.
O Povo, contudo, como evidencia a marchinha campeã do carnaval de 1951, “
Retrato do Velho” (“Bota o retrato do Velho outra vez, Bota no mesmo lugar, O
sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”. De Haroldo Barbosa Pinto), parecia
não se haver enganado quando votou em Vargas para presidente. Foi esse mesmo
povo, aliás, que saiu às ruas de várias cidades do país, em agosto de 1954,
chorando e gritando, provocando incêndios e quebra-quebras, tudo para deixar
claro seu apreço ao presidente morto e, mais uma vez, para assustar a UDN e os
antigetulistas. Esses tiveram de fugir ou se recolher, reconhecendo a força do
último golpe de Vargas: um golpe de mestre.
Vargas se matou, não era mais o chefe de um governo ditatorial, como fora
durante o Estado Novo (1937-45), mas um presidente eleito pelo voto popular, em
disputado pleito ocorrido em 1950. Sua vitória foi uma surpresa para os
opositores, reunidos na União Democrática Nacional, a UDN. Estes acreditavam
que um ex-ditador não poderia ser eleito, e, se o fosse, não poderia tomar
posse. Tanto que questionaram as eleições e a consideraram, como frequentemente
os derrotados fazem, uma prova cabal de que o povo brasileiro não sabia votar.
O Povo, contudo, como evidencia a marchinha campeã do carnaval de 1951, “
Retrato do Velho” (“Bota o retrato do Velho outra vez, Bota no mesmo lugar, O
sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”. De Haroldo Barbosa Pinto), parecia
não se haver enganado quando votou em Vargas para presidente. Foi esse mesmo
povo, aliás, que saiu às ruas de várias cidades do país, em agosto de 1954,
chorando e gritando, provocando incêndios e quebra-quebras, tudo para deixar
claro seu apreço ao presidente morto e, mais uma vez, para assustar a UDN e os
antigetulistas. Esses tiveram de fugir ou se recolher, reconhecendo a força do
último golpe de Vargas: um golpe de mestre.
Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098