Santo Antônio de muitas Histórias

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Área portuária de Santo Antônio do Alto Madeira – 1915
Em
Santo Antônio do Madeira desde 25 de janeiro de 1873 já havia uma Mesa de Renda
para cobrança de impostos e, em 7 de julho de 1891 fora estabelecida a
coletoria, seguindo-se a criação e instalação da comarca, com
seu primeiro Juíz de Direito, o Dr. João Chacon. Lembrando os nomes do PE. João
Sampaio, missionário jesuíta do século XVIII, de Félix de Lima, de Severino da
Fonseca e outros, rasgaram-se as ruas, praças e avenidas em plena floresta. Não
havia esgoto, nem água canalizada, nem iluminação de qualquer natureza, onde o
gado era abatido em plena rua à carabina e as porções não aproveitadas,
abandonadas no próprio local, onde monte de lixo e de todos os produtos da vida
vegetativa eram atirados às vielas esburacadas ou apoiados às paredes das
habitações, onde pântanos perigosos proporcionavam aluviões de anofelinos a
espalhar a morte por todo o povoado.
Marco Divisório em Santo Antônio (fonte: Manuel Português)
Santo
Antônio foi elevado a município em 1908, mas só em 1912 deu-se a instalação;
eis que sob a liderança do primeiro prefeito municipal, Dr. Joaquim Augusto
Tanajura, tenente médico baiano da Força Policial, que acompanhara como médico
a Comissão Rondon de 1909. Em Santo Antônio a vida tornava-se mais humana: já
havia iluminação elétrica, cogitava-se a instalação de uma biblioteca, enquanto
“O Bilontra” (tipo de jornal mural) colado nos muros substituía o jornal
cotidiano. Logo de início abriu-se uma escola e planejava-se importante estrada
de rodagem, embora pequena. No entorno da localidade, continuava a presença dos
índios.
O
autor de “Desbravadores” às págs. 215 e seguinte do primeiro volume, assim
descreve Santo Antônio:
“Gente
de todo mundo acabava de chegar – fazia anos! – à margem da primeira cachoeira
inferior do rio Madeira. Brasileiros vindos de quase todos os pontos do país,
ingleses, italianos, espanhóis, peruanos, bolivianos e portugueses”
Santo Antônio do Alto Madeira- 1921
A
região era ocupada por uma população ondulante, instável, de aventureiros
aliciados para um trabalho que oferecia todas as probabilidades da desventura.
Fracassados na vida, audaciosos e viciados, aumentavam ao sabor das condições
econômicas. O dia escoava-se ao ritmo do trabalho; a noite, ao ritmo da
algazarra, da música, dos gritos e discussões em uma dúzia de línguas nos
botequins, casas de jogo e de tolerância. Estas, eram numerosas: as francesas
chegadas de Paris alinhavam-se com as brasileiras, as espanholas e bolivianas,
de permeio aos homossexuais e pederastas.
Força Estadual na Vila de Santo Antônio (Fonte: Manuel Português)
Bebia-se
champanhe, cerveja e aguardente. Comia-se peixes do rio Madeira e as mais finas
conservas nacionais e estrangeiras. As brigas eram freqüentes, os crimes
comuns, lê-se no 1° Livro de Ofícios do Arquivo do município de Santo Antônio:
uma verdadeira “currutela” (pequena vila com comércio), dir-se-ia hoje em
termos de garimpo.
Assim
é que, não obstante a passagem benéfica de Oswaldo Cruz ( o município aduirira
dez mil cápsulas de quinino), o Livro de Óbitos evidencia que era alto o índice
de mortes, sobretudo crianças, causados por Beribéri e o impaludismo.
O
autor de “Desbravadores” lembra ainda que, contra tantas adversidades, vingara
a idéia da edificação de uma capela, “Não fora convicção, se-lo-ia ao menos para
querer imitar as outras terras civilizadas”.
Em
todo caso, em meio aquela multidão de homens sem nenhuma instabilidade, havia
uns poucos bem intencionados. Em 1919 era Prefeito o Dr. José Adolfo de Lima,
tendo como vereadores de sua Câmara Municipal, Salustiano Alves Correia
(presidente), João Ranulto Brasil, João L. de Souto, Boaventura S Rolim, Manoel
S. dos Santos, José F. da Conceição e Raul Arantes Meira.
Hoje,
a localidade de Santo Antônio é sombra de um passado movimentado. História
esquecida e abandonada por gerações, onde poucos sonhadores ainda lutam por seu
resgate, revitalização e preservação do patrimônio histórico. Se no distante
passado, os gestores e políticos de época buscavam solucionar os problemas da
localidade com o intuito de seu desenvolvimento, hoje, a geração política nem
se constrange em negar o passado, fechando os olhos para a identidade local,
lugar que foi o primeiro núcleo habitacional a margem direita do Rio Madeira,
marco de ocupação da região de Porto Velho, vergonhosamente abandonado no
presente, foi glória no passado, talvez esquecida no futuro.
Aleks
Palitot

Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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