Caravana FORD, uma aventura em Rondônia

Tempo de leitura: 5 minutos

Quando é que um acontecimento deixa de ser passado para começar a ser
história? Será somente pelo número de anos decorridos, ou em cada caso haverá
um tempo próprio, de acordo com a importância regional ou nacional de fato, com
a existência do registro de informações que poderão ser examinadas e
analisadas, ou quando a maior fonte de informações reside na memória e na
lembrança dos que dele participaram, podendo a perda desses testemunhos dar
lugar a versões que não corresponde à verdade?
Sem a pretensão de ser o dono da verdade, desejando apenas reavivar fatos
que já vão ficando no esquecimento, e considerando a importância da BR 364 na
vida econômica de Rondônia, como fator decisivo na criação das condições que
permitiram a transformação do Território em Estado.
Os desbravadores que chegaram, no início da ocupação dessa terra ainda
deserta da presença do homem não índio, e penetraram nas florestas em busca da
castanha e da borracha, fundaram as primeiras povoações, construíram a Madeira
Mamoré, rasgaram as primeiras trilhas terrestres e pelos cursos d’água
atingiram as regiões do interior, foram os pioneiros e precursores de Rondônia
de nossos dias.
Então veio a abertura da BR 029, num ato de ousadia e lúcida visão do
presidente Juscelino Kubitschek, transformando Rondônia a partir daquele momento
na maior frente de migração interna no Brasil e na mais próspera fronteira
econômica do país.
Em uma reunião de governadores, levada a efeito nos primeiros dias de
fevereiro de 1960, com o presidente da República, Juscelino Kubitschek, onde se
faziam presentes os governadores dos territórios federais de Rondônia, Acre e
Rio Branco (Roraima), além do governador do Estado do Amazonas, respectivamente
Paulo Leal, Fontenele de Castro, Hélio Araújo e Gilberto Mestrinho, o coronel
Paulo Leal, usando seus bons conhecimentos técnicos em engenharia, demonstrou
ao presidente a necessidade de reiniciar a construção da BR 29. Para isto,
chegou ao gabinete do presidente sobraçando grosso rolo contendo mapas e
recortes de jornais, ao mesmo tempo em que contava com o apoio e entusiasmo de
seus colegas da região. Juscelino ouviu-o. Como uma de suas
metas era construir estradas para integrar o Brasil, ficou empolgado a ponto de
determinar ao DNER a imediata execução dos trabalhos, mesmo por que pretendia
inaugurar a estrada, antes do final do ano.
Mas a abertura da rodovia não fora suficiente, pois a mesma não era
pavimentada, e se tratando da Amazônia e no seu período chuvoso, logo a mesma
estrada de tantos sonhos, se transformara e uma rodovia de pesadelos, onde em
determinadas épocas se levavam dez dias de Vilhena até Porto Velho, em virtude
dos inúmeros atoleiros e pontes de madeira frágeis sob o efeito do tempo.
Mapa do roteiro da Caravana Ford em 1960.
No final de 1960, uma equipe formada com motoristas e mecânicos do
governo, além de particulares, levou 59 dias de São Paulo a Porto Velho,
conduzindo uma caravana de carros da FORD, chefiados pelo telegrafista Antônio
Brasileiro, mais tarde substituído pelo mecânico Eduardo Lima e Silva.
Enfrentando o areião desértico, bebendo água de tambores, comendo
conserva, enfrentando lama pelos picadões recém abertos, por tratores da
Camargo Correia na floresta Amazônica; ou ainda, quando chovia, bebendo água
coletada nos caminhões, ao mesmo tempo em que se banhavam na chuva, procurando
mitigar o calor sufocante.
Na trajetória da caravana, somente encontravam tapiris e insetos em
grandes quantidades. Na estrada que seria a Cuiabá-Porto Velho, também
encontravam os índios que eram em bom número na região.
Entre alguns personagens interessantes entre tantos que participaram
dessa aventura, fizeram parte o jornalista e diretor de cinema Manuel Rodrigues
Ferreira que jovem naquela época fez inúmeras matéria sobre a caravana para
jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, posteriormente acabou escrevendo a
melhor obra sobre a ferrovia Madeira-Mamoré, o livro “Ferrovia do Diabo”. Também
fazendo a cobertura da aventura durante um pequeno período o famoso jornalista
Vladimir Herzog. Entre aqueles que ainda estão vivos para contar a história,
temos o folclórico e carismático Sr. Gervásio que foi responsável pelas
travessias dos caminhões em pontos de pontes e pinguelas que exigiam muita
perícia, o mesmo reside em Porto Velho e em 2015 recebeu a Comenda Marechal
Rondon, maior honraria do estado, por fazer parte de um seleto grupo de
destemidos pioneiros de Rondônia.
Missão desse tipo exigia a escolha criteriosa e apurada de seus
componentes, pois dificuldades para cumpri-la não iriam faltar. Chefe da
expedição inicialmente, o chefe do gabinete do governador, Antônio Brasileiro,
depois tivemos fazendo parte a importe figura história Eduardo Lima e Silva conhecido também como Dudu. A expedição também tinha como integrantes, o
jornalista da Folha de São Paulo Hugo Penteado, o Coronel da Aeronáutica e
naturalista Moacir Alvarenga, médico Carlos Fleury,  o mecânico da ford Sergio Zalawska, o
jornalista  Álvaro Costa, cinegrafista
Nestor Marques, José Araújo, Antônio Gervásio, Cordiel Firmino, Milton Luiz dos
Santos, Benedito Cardoso, o empresário Roberto Casanave (representante da FORD
em Porto Velho), Ireno Ribeiro, Raimundo Feitosa, Auzier Santos, Severino
(cozinheiro), José Maria Saleh, Eduardo Lima e Silha filho e Antônio Costa
Pereira.
A caravana Ford saiu de São Paulo no dia 28 de outubro composta por sete
caminhões F-600, um trator e um jeep. Atravessando balsas e enfrentando a lama,
ruindo pinguelas, abrindo variantes, até chegarem em Porto Velho no dia 28 de
dezembro às 20 horas, sob aplausos de grande público e do governador Paulo
Nunes Leal.
Aleksander
Palitot
Professor e
Historiador  

1 comentário


  1. Fascinante. Fiquei com uma dúvida, qual era a motivação maior da caravana Ford?

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