70 anos da derrota do Nazismo

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O
Nazismo e o Expansionismo Alemão
            As
concepções nazistas de Hitler, expostas no Mein Kampf[1] e
em outros trabalhos, constituíam uma complexa miscelânea de idéias filosóficas
e princípios pseudocientíficos. A bíblia que Hitler começou a escrever na
prisão de Landsberg, onde esteve recolhido, com razoável conforto, de novembro
de 1923 a
dezembro de 1924.  Desse livro, redigido
com incrível desleixo e inúmeros erros de sintaxe, venderam-se milhares de
exemplares. O autor se investe na missão de predestinado, a quem cabe a missão
de purificar o mundo.  “Creio agir – escrevia – no sentido desejado pelo Criador Todo
Poderoso.  Lutando contra o Judeu eu
defendo a obra do Senhor”
.  A
arte dos grandes líderes, dizia ainda, sempre consistiu, através dos tempos, em
não distrair a atenção do povo, concentrando-se sempre sobre um só adversário,
segundo ele o “judaísmo internacional”, sustentáculo ao mesmo tempo,
do capitalismo e do comunismo.  Em suma, os
principais pontos do nazismo eram o antibolchevismo (comunismo e
socialismo);  fusão do socialismo e do
nacionalismo numa  nova unidade;  coletivismo-totalitário, antiindividualista;
governo de indivíduos superiores e elites; anti-semitismo; irracionalismo ou
revolta contra a razão e o racionalismo ocidental; racismo, teoria das raças
superiores e inferiores; princípio da liderança – “o Fuhrer está sempre
certo”; imperialismo e exaltação à guerra.
            Em
meio à crise econômica alemã, surgiu, por volta de 1919, um pequeno grupo
político denominado Partido dos Trabalhadores. 
Apesar do nome, não era de esquerda. 
Em setembro desse mesmo ano, o grupo ganhou a adesão de um dos tantos veteranos
de guerra ressentidos com os termos do Tratado de Versalhes. Austríaco de
nascimento, o ex-soldado não tinha emprego fixo, mas era de grande habilidade
na oratória.  Seu nome era Adolf
Hitler.  Em 1920, Hitler já era o
principal líder do grupo, que passou a se chamar Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (ou Partido
Nazista).  No ano seguinte, os nazistas
criaram as SA (Stürmabteilungen,
Tropas de Assalto), milícias semelhantes aos Camisas Negras fascistas na
Itália.  Seu objetivo era intimidar e
eliminar os militantes dos partidos comunista e socialista.  Mais tarde, surgiram as SS (Schutzstaffel, Tropas de Proteção), que
reuniram uma elite de assassinos fiéis a Hitler.
            Em
1923, estimulado pelo exemplo de Mussolini, que chegou ao poder por meio da
Marcha sobre Roma, Hitler promoveu uma desastrada tentativa de golpe de estado
em Munique, capital da Baviera, uma província alemã.  A tentativa foi reprimida pelo governo e
Hitler,preso e condenado.  Na prisão,
onde ficou até fins de 1924, escreveu o livro Mein Kampf, no
qual expunha suas idéias e propostas para a Alemanha. O livro teve um relativo
sucesso de público e Hitler começou a ficar popular.  Suas idéias anti-semitas e seu nacionalismo
extremado atraíram setores da população desesperados com a crise do pós-guerra.  Ainda em 1923, tropas francesas e belgas ocuparam
o vale industrial de Ruhr para obrigar os alemães a pagarem suas dívidas de
guerra.  Carente dos rendimentos desse
importante pólo econômico e compelido a fazer emissões de papel-moeda, o
governo republicano não conseguiu deter a inflação, que culminou com a
desvalorização do marco (moeda alemã) em proporções alarmantes.  Entretanto, entre 1924 e 1929, com a
aquisição de financiamentos norte-americanos, a Alemanha pôde amortizar suas
dívidas de guerra e, assim, retornar o difícil processo de recuperação interna.
            Em
1929, a
quebra da Bolsa de Nova York lançou a Alemanha em uma crise mais profunda do
que a de 1923-1924.  A inflação voltou a
subir, mas o pior foi a bancarrota das empresas.  Em 1929, havia dois milhões de desempregados
na Alemanha.
            Apostando
na crise e na desesperança do povo alemão, os nazistas passaram a ganhar
admiradores em quantidades cada vez maiores. Para isso valiam-se de  sua poderosa máquina de propaganda.  Ao mesmo tempo, passaram a receber cerrado
apoio da alta burguesia, assustada com a crise e com o progresso da esquerda
comunista.  Comunistas e socialistas, de
fato, cresciam eleitoralmente, mas estavam desunidos.  Em Moscou, Stálin comandava a Terceira
Internacional, que estabelecia diretrizes políticas para todos os partidos
comunistas do mundo.  Essa centralização
rígida e monopolítica em torno de Stálin seria fatal para a Alemanha.  Nas eleições de 1932, a soma de votos dos
comunistas e dos socialistas alemães era maior do que a dos nazistas, que
obtiveram 37,3% dos sufrágios. 
Entretanto, por determinação da Terceira
InternacionalI,
o Partido Comunista alemão se recusou a somar forças com os
socialistas.  O resultado foi a nomeação
de Hitler para o cargo de primeiro-ministro em janeiro de 1933.  Selando, assim, o destino da Alemanha.
            A
27 de fevereiro desse mesmo ano, grupos nazistas incendiaram o prédio do
Parlamento (Reichtag).  Hitler atribuiu a responsabilidade aos
comunistas.  A acusação sem provas, foi
usada como justificativa para uma violenta repressão aos sindicatos e aos
membros do Partido Comunista e do Partido Socialista.  A Constituição foi anulada e brotaram os
primeiros campos de concentração.  Hitler
contou com amplo apoio do empresariado alemão e de setores da população. Para
aliciar o exército, ordenou o massacre das SA, as antigas tropas de assalto,
vistas como um rival incômodo pelos militares. 
Na noite de 30 de junho de 1934, cerca de três mil membros das SA foram
mortos pelas tropas das SS, fiéis a Hitler. 
O episódio ficou conhecido como Noite
dos longos punhais.

            Em
agosto de 1934, morreu o marechal Hindenburg, ocasionando assim o acúmulo de
funções por Hitler que passou a também responder pelo cargo de presidente.  Era o fim da República de Weimar e o começo do Terceiro Reich, sob o comando de Hitler, que recebeu o título de Führer (“chefe”, em alemão).
            Uma
das idéias básicas do nazismo era a crença de que o povo alemão descendia de
uma raça superior (arianos) e, por isso, tinha o direito de sobrepujar as raças
inferiores (judeus, eslavos, negros e etc.). 
Os judeus eram especialmente odiados, porque, sendo uma raça inferior
distribuída pelo mundo, representavam uma ameaça capaz de contaminar a pureza
do sangue alemão.  Assim, os casamentos
entre judeus e alemães foram proibidos e os judeus, boa parte, aniquilados.
            O
nazismo repudiava todos os valores do individualismo e do liberalismo
democrático, cravando a total integração do indivíduo no seio da comunidade
política do Estado[2].  Os cartazes nazistas diziam, por exemplo, Tu não és nada, teu povo é tudo.  A vontade do estado era a vontade do povo
alemão e somente poderia ser explanada com perfeição pelo Führer – chefe representante da comunidade -, a quem todos deviam
prestar obediência absoluta.  Por isso,
afirmava Hermann Goering[3],
um dos mais íntimos colaboradores de Hitler, Eu não tenho consciência individual. 
Minha consciência se chama Adolf Hitler
.
            Em
termos de programa político, o nazismo pregava que o povo alemão tinha de
expandir-se militarmente, estendendo seu espaço vital. Afirmava, ainda,  ser necessário acabar com a humilhação
nacional imposta à Alemanha pelo Tratado de Versalhes.  Por fim considerava como principais inimigos
externos do país os russos, os franceses e os ingleses e, como inimigos
internos, os judeus, os socialistas e os defensores da democracia parlamentar.
            Senhor
absoluto do poder, Hitler dissolveu o Parlamento, criou a Gestapo (policia
política secreta) e estabeleceu o regime de partido único, consentindo apenas a
existência do partido Nazista.  No campo
econômico, o Estado nazista fez rápidos progressos.  Para começar, impediu que continuassem a ser
repatriados os capitais estrangeiros investidos no país.  Com isso, pôde aguilhoar a agricultura e a
indústria, em especial a de armamentos. 
Ao mesmo tempo, criando empregos nas construções e indústrias do Estado
e ganhando mais adeptos do governo.
            Como
já foi dito, esse programa, o nazismo, conseguiu a simpatia de numerosa massa
de descontentes, que sofria com a intolerável situação econômica que abalava o
país.  Era um programa que atraía
especialmente as classes médias (pequenos comerciantes, pequenos industriais e
profissionais liberais), camponeses endividados, desempregados e
ex-combatentes.
            Proclamando
que o povo alemão tinha direito de ampliar seu espaço vital, Adolf Hitler
traçou plano precioso para a trajetória expansionista da Alemanha Nazista.  Em março de 1936, Hitler ordenou que o
exército alemão tomasse a Renânia, região do rio Reno, entre as fronteiras da
França e da Alemanha.  Segundo o Tratado de Versalhes[4],
essa região devia permanecer desmilitarizada, porém Hitler desrespeitou essas
proibições.
            A
ação militar alemã não incomodou os generais franceses.  A maioria deles ainda acreditava nos métodos
antigos, utilizados na Primeira Guerra. 
Para defender o território francês, elaboraram uma estratégia antevendo
uma guerra de trincheiras[5],
com exércitos imóveis garantindo posições. 
Construíram uma longa fortificação percorrendo a fronteira entre a
França e a Alemanha, conhecida como linha Marginot.
            Em
março de 1938, Hitler alcançou a anexação da Áustria à Alemanha (denominada Anschluss – União) sem disparar um único tiro, pois o forte
Partido Nazista austríaco já havia preparado todo o caminho político para que
essa anexação ocorresse.  Alegava-se que
alemães e austríacos constituíam um povo germânico e, portanto, deviam viver
sob o comando de um só Estado.  A Anschluss foi confirmada por um
plebiscito austríaco realizado em abril de 1938, desvendando que o nazismo era
bastante popular na Áustria.  Pouco tempo
depois da anexação austríaca, Hitler passou a reivindicar a anexação da região
dos Sudetos, na Tchecoslováquia, habitada por 3 milhões de alemães.
            O
Estado nazista ocupou a região dos Sudetos mas também acabaram invadindo toda a
Tchecoslováquia (março de 1939), seguindo ordens secretas de Hitler,
desrespeitando o que havia sido combinado na Conferência de Munique[6].
Diante das agressões nazistas, França e Inglaterra apenas lançaram palavras de
protesto contra a Alemanha.  Franceses e
ingleses pensavam que o grande inimigo do mundo capitalista ocidental era o
socialismo da União soviética.  Enquanto
isso, Hitler traçava planos para novas invasões.
            No
dia 27 de agosto de 1939, a
Alemanha assinou um pacto secreto de não-agressão com a União Soviética.  Stalin e Hitler decidiram, então, ocupar a
Polônia e dividi-la entre os dois países. 
Em 1º de setembro de 1939, tropas alemãs invadiram pelo oeste o
território polonês, sendo seguidas pelas tropas russas (17 de setembro de
1939), no lado leste.
            Dois
dias depois do ataque dos nazistas, Inglaterra e França declararam guerra à
Alemanha.  Era o início da Segunda Guerra
Mundial.  A segunda Guerra Mundial
(1939-1945) envolveu povos de praticamente todas as regiões do globo, embora os
principais choques armados tenham sido travados na Europa, no norte da África e
no Extremo Oriente.
Aleks Palitot
Historiador
Reconhecido pelo MEC


[1] Minha luta. Livro escrito por Hitler,
onde continha os ideais nazistas e a raça pura (Ariana).
[2]
LENHARO, Alcir. Nazismo – “O triunfo
da vontade”
. Ed. Ática. São Paulo, 1986.
[3] LUKACS,
John. O Hitler da história. JZE. Rio
de Janeiro, 1998. 
[4]
Resultou da Conferência de Paz de Versalhes 
realizada entre janeiro e junho de 1919. Obrigou a Alemanha a pagar aos
Aliados uma reparação de guerra de 33 bilhões de dólares, determinando ainda a
desmobilização militar do país, a concessão de territórios na fronteira com a
França e a perda das colônias Alemãs na África e na Ásia.
[5]
Estratégia de guerra de resistência militar, onde se utilizavam trincheiras e
buracos para combater em solo.
[6]
Conferência onde se reuniram além de Hitler e Mussolini, os primeiros ministros
Neville Chamberlain (Inglaterra) e Édourad Daladier (França).  Decidiram, a favor da Alemanha, apenas a
anexação da Região dos Sudetos. 

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