UCRÂNIA: FOGO CRUZADO

Tempo de leitura: 8 minutos

Nos últimos dias tem-se
evidenciado através dos meios de comunicação a crise envolvendo a Ucrânia e a
Rússia. O assunto requer nossa atenção, pois é muito rico em informações e traz novamente
à tona as relações Oriente/Ocidente, que nos remete a um tempo recente, a Guerra Fria, envolvendo EUA e URSS. Para
melhor entendimento da crise atual, vamos conhecer os envolvidos, e posteriormente o seu desencadeamento.

                        A CRIMEIA

A Crimeia localiza-se no sudeste da Ucrânia e foi parte da Rússia até 1954,
quando o então dirigente soviético Nikita Kruschev decidiu “dá-la de presente” à Ucrânia em gesto simbólico de
amizade. Assim, a Crimeia tornou-se parte da Ucrânia, apesar de possuir certa autonomia. Sua população é de maioria étnica
russa, o que faz com que esses russos ou seus descendentes queiram anexar-se à Rússia, deixando de fazer parte da Ucrânia. A
região abriga muitos militares russos aposentados, e fica geograficamente
distante de Kiev (capital da Ucrânia). A península da Crimeia é um ponto
estratégico para os russos, porque eles têm lá uma base naval importante situada em Sevastopol,
onde está a maior parte da sua frota. O Mar Negro constitui-se em uma espécie de trampolim em direção ao Sul, ou seja,
para o Mar Mediterrâneo e Oriente Médio.
                                       UCRÂNIA
A
Ucrânia é um país que resultou do desmembramento da União Soviética. Situa-se
em uma posição estratégica na fronteira entre a Europa e a Rússia, entre o
Ocidente e a Ásia, estabelecendo laços econômicos com a Rússia e a União Europeia.
Recentemente, tentativas de acordo para estreitar as relações com a EU
aumentaram a tensão com a Rússia. A Ucrânia possui um amplo território e é um
grande produtor de grãos, açúcar e minerais não ferrosos. O país está entre os maiores
exportadores de grãos do mundo. Mas, apesar disso, atualmente a Ucrânia precisa
de empréstimos urgentes para evitar a sua falência estatal, pois vive uma crise
econômica e política. O país, desde o colapso da União Soviética em 1991, tem
estado dividido entre leste e oeste, o que se reflete na língua e na cultura.
No sul e leste do país, o russo é o idioma mais falado. No centro e oeste e em
regiões próximas a Europa, o ucraniano é a língua principal e existe muita
identificação com a Europa central.
                                       RÚSSIA

A Rússia estende-se por grande parte da Ásia (norte) e Europa (leste), sendo o
maior país do mundo em extensão territorial. Possui o maior arsenal nuclear do
mundo e o maior número de armas de destruição em massa. Encontra-se entre as 10 maiores economias do mundo, sendo responsável por 20% da produção mundial de
gás natural e petróleo. A Rússia, depois da queda da União Soviética, vem tentando estabelecer uma economia de livre
mercado. Em 1998 sofreu uma grave crise, na qual o rubro (moeda oficial) desvalorizou e causou sérios problemas à
população. Em maio de 2012 assumiu a presidência da Rússia Vladimir Putin, e o PIB do país voltou a crescer, com taxas médias de
6% ao ano; entretanto, a economia é ainda extremamente dependente da exportação de petróleo, responsável por cerca de 80%
das exportações do país.
 As
manifestações na Ucrânia tiveram início em novembro de 2013, quando o governo do presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia. Diante dessa desistência do governo e da intenção de manter-se aliado da Rússia, parte da população pró-ocidente foi às ruas protestar contra a decisão, o que
resultou em manifestações violentas, e uma forte repressão por parte do governo que levou à morte muitos civis. As manifestações culminaram em fevereiro de 2014 com o afastamento de
Yanukovich da presidência pelo parlamento do país. Yanukovich foi eleito democraticamente em 2010, mas a população ucraniana está cada vez mais insatisfeita com a dependência ucraniana em relação a Moscou e com o excesso de poder que o presidente concentra em suas mãos. Nesse contexto, a oposição ucraniana assumiu o governo.

A saída do presidente Yanukovich fez com que manifestações em favor da Rússia ocorressem na Crimeia (aliada de Moscou). O parlamento local
foi tomado por um comando que instituiu sua independência e posterior anexação à
Rússia. O governo não é considerado legítimo pelas forças internacionais e pelo
governo da Ucrânia. Com as tensões, a Rússia enviou tropas para a Crimeia, dominando
bases militares e aeroportos. O presidente Vladimir Putin justificou sua atitude
alegando estar defendendo os interesses e a segurança dos cidadãos da Crimeia e
também da Ucrânia. O parlamento da Crimeia realizou em 16/03/14 um referendo
popular que resultou em mais de 95% da população votando pela anexação à Rússia e a consequente separação da Ucrânia.


União Europeia e EUA manifestaram-se contrários ao referendo e não reconhecem
sua legalidade. A Rússia e a Crimeia assinaram dia 18/03/14 um tratado de
anexação da península ucraniana à federação Russa. Vladimir Putin declarou na
oposição que “A Crimeia sempre foi parte da Rússia nos corações e mentes das
pessoas.” Prometeu também defender os direitos da Rússia na região, criticou o novo governo ucraniano e disse não temer sanções
internacionais.
No
dia 21/03/2014 Vladimir Putin tornou a Crimeia oficialmente parte do território
russo, assinando a lei de anexação. Após a anexação formal, foi anunciada a
suspensão do desconto fornecido para a Ucrânia na compra de gás em troca do aluguel da base de sua frota
no Mar Negro.
                   Reação
do mundo a crise
Depois
de Moscou anexar a Crimeia (março/2014), o Ocidente impôs sanções à Rússia
relacionadas à proibição de vistos para algumas autoridades e oficiais da Rússia e da Crimeia, banindo a
entrada em seus territórios. Existe, porém, a possibilidade de serem impostas sanções mais duras contra a economia russa caso
Moscou envie mais tropas à Ucrânia Em
entrevista à revista alemã Focus em 02/04/14, o secretário-geral da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), general
Andres Fogh Rasmussen, declarou que:

“Ao cometer esses atos, a Rússia abalou nossa parceria e foi contra seus próprios engajamentos internacionais. Não podemos continuar como se nada tivesse acontecido”, referindo-se à anexação da Crimeia ao território russo. Argumentou ainda que: “Tememos que não seja o suficiente para ele (Putin).
Tememos não estarmos lidando com um pensamento racional e sim com emoções, o
anseio de reconstruir a antiga esfera de influência da Rússia em sua vizinhança.”


Em contrapartida, a Rússia acusou a OTAN de usar a linguagem da Guerra Fria ao suspender a cooperação com Moscou: “A linguagem dos comunicados se assemelha às disputas verbais da era da ‘Guerra Fria'”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo Alexander
Lukashevich em comunicado.
Esse
assunto com certeza não acaba aqui, terá continuidade; por isso precisamos
ficar atentos a todas as notícias referentes a ele.

Para o ENEM 2015, algumas dicas de como explorar esse assunto:
• Conflitos Estados Unidos e Rússia;

A anexação da Crimeia à Ucrânia em período significativo da Guerra Fria em
1954;

O memorando de Budapeste;

Ucrânia: situação do país após queda da União Soviética;
• Comunidade dos Estados Independentes (CEI);

A perda da influência da Rússia no contexto mundial e a possível tentativa de
recuperá-la, garantindo a primazia de poder e influência sobre seus vizinhos. Putin teme que as vantagens do
capitalismo atraiam os países que ele considera satélites da Rússia.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela
portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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